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08/03/2017

Atletas Independentes Olímpicos e a legitimidade do Comitê Olímpico Internacional em resolver conflitos

Esse é o título de uma produção científica fruto de todo um trabalho desenvolvido no mestrado. Publicado pela International Journal of the History of Sport, esse artigo faz parte de uma coleção especial do periódico sobre “Conflitos nos Jogos Olímpicos”. O objetivo dessa coleção era de unir produções de conhecimentos que encaixavam a forma como os Jogos Olímpicos foram e são inseridos dentro de conflitos, sejam eles de cunho bélico ou conflitos políticos entre as nações que compõem o quadro de membros do COI.

Desta forma, optei e desenvolvi esse estudo, com a ajuda de meus colaboradores, não debatendo conflitos internacionais propriamente ditos, mas sim, a forma ou a legitimidade com que o Comitê Olímpico Internacional trata e tenta resolver tais conflitos pela grandiosidade e emponderamento político-econômico e sociocultural que essa corporação global esportiva possui nos dias atuais. Para isso, optamos por discutir a configuração de como foi feita a criação da delegação dos Atletas Independentes Olímpicos (IOA) pelo COI como uma forma legítima e paternalista (Artigo futuro) de resolver conflitos internacionais.



Assim, as seções do artigo foram divididas em três partes:
1- A constituição dos Atletas Independentes Olímpicos: Não aprofundarei porque esse tema já foi publicado aqui (http://outrafacedoesporte.blogspot.com.br/2016/07/a-diferenca-entre-os-atletas-refugiados.html) mas a constituição dessa delegação não nacional para os Jogos Olímpicos (os Refugiados Olímpicos também) representa uma política global do COI em resolver conflitos das mais variadas magnitudes, desde guerras (Iugoslávia no ciclo olímpico de 1992), processos de independência de nações (Timor Leste no ciclo olímpico de 2000 e Sudão do Sul em 2012), e processo de não reconhecimento de uma nação (Antilhas Holandesas em 2012). Tais conflitos descritos, afetaram seus respectivos atletas de representarem seus símbolos nacionais e para que tais conflitos não afetassem os atletas, reconhecendo eles como indivíduos e não coletivos e detentores de sua autonomia, o COI permitiu a participação dos mesmo sem uma égide nacional.

2- O COI como uma instituição internacional na era moderna: Nessa seção e na subsequente, fizemos uma periodização histórica do COI afim de elucidar o processo de legitimação do mesmo como um órgão, uma corporação e outros adjetivos similares com um poder soberano em criar políticas internacionais pacíficas por meio do esporte e de seu mega-evento sobressalente ao de Estados-nação.
Dessa forma, no seu cerne (1894) até a década de 1980, o COI era apenas, como afirmamos, uma instituição internacional. Ou seja, era apenas cuidador e zelador da realização dos Jogos Olímpicos e da manutenção de seus princípios éticos e morais (o Olimpismo), sendo totalmente conivente e apático por tais conflitos que a era moderna proporcionou. Os maiores exemplos são as duas Grandes Guerras mundiais e a Guerra Fria.

3- O COI como uma corporação global na era contemporânea: Dando sequência a periodização, essa seção discute a reviravolta gerencial e organizacional que o COI sofreu na chamada era contemporânea ou mais precisamente num contexto de uma nova ordem econômica e social, a Globalização. Esse período compreende mais especificamente do ano de 1984 (mandato de Juan Antonio Samaranch) aos dias atuais e nos evidencia que a passagem do bastão da regulação das economias nacionais e dos mercados dos Estados-nação para corporações internacionais (como Banco Mundial, FMI, OMS e os blocos econômicos como União Europeia e o Mercosul), fornece um maior aporte legitimador para tais corporações, dentre elas o próprio COI, em comandar ações internacionais inclusive em ter uma legitimação em criar identidades, comunidades e grupos globais, tal como os Atletas Independentes Olímpicos.

Portanto, por todo um contexto histórico da globalização, assim como por uma necessidade do COI se posicionar politicamente a frente de conflitos internacionais, o mesmo deixa de ser uma instituição internacional omissa e passa a ser uma corporação global com um alto poder econômico, político e sociocultural, possuidor de uma legitimidade em resolver conflitos. Que neste caso específico do artigo, a ideia de cessar conflitos viria pela constituição dos Atletas Independentes Olímpicos.