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24/03/2012


Futebol e Racismo: Preconceito por causa da “cor” ou pelo dinheiro?


Argumenta-se que o futebol, ou o esporte em si é uma representação da sociedade que os joga e a partir deste ponto de vista, a prática de esportes refletem as características e os comportamentos desta sociedade. Como tudo não são flores, um destes comportamentos é o racismo presente em vários dos grandes povos do mundo desde o começo das colonizações das Américas e principalmente da África, refletindo assim dentro de campos, quadras e etc.

Com o surgimento dos esportes modernos no século XVIII e XIX devido a transformação econômica e política na Grã Bretanha, através da Revolução Industrial, as práticas esportivas eram privilégios e diversões apenas para as elites europeias, com objetivos de harmonizar os músculos, coordenar os movimentos, etiquetagem e controlar a violência para o fortalecimento da moralidade nas classes altas, segregando qualquer classe inferior de suas práticas. Através da propagação dos esportes modernos para outros países da Europa e da América do sul, esta mentalidade elitista e segregacionista tomou conta e se tornou um dos principais alicerces para que o racismo entrasse em campo, principalmente em relação a países que adotaram esportes associados a princípios de progresso e de industrialização quando suas economias ainda era predominantemente agrária e também por se tratar de esportes para pessoas formadas e intelectuais quando se tinha uma alta taxa de desigualdade social e marcas do escravismo.

Particularmente no Brasil, quando o futebol se iniciou em 1894, o pensamento era da prática ser para pessoas com igualdade de condição social e racial e por isso, se o futebol fosse jogado por operários ou negros, a prática se tornaria um sofrimento e sacrifício e deixaria de ser uma diversão. Assim se foi até o ano de 1926, onde o futebol era simplesmente elitista e racista, tendo apoios de associações e autores da literatura da época tais como: Rui Barbosa que se referiu a jogadores negros da seleção brasileira como corjas de malandros e vagabundos, Graciliano Ramos – escritor de Vidas Secas – classificou o futebol com efêmero modismo e Lima Barreto pensava que o futebol praticados por negros eram arruaças cometidas por desordeiros. Com estes pensamentos, atos de racismo não cessavam, um exemplo, o caso do jogador negro do Fluminense que antes de entrar em campo passou pó de arroz no rosto para disfarçar sua raça e o caso do time do Vasco que foi desfiliado de uma associação regional de futebol do Rio de Janeiro, simplesmente por ter a maioria de jogadores negros em seu time. Sem mencionar o goleiro Barbosa na Copa de 1950.

O erro foi que ninguém pensava ou esperava que naquela época o futebol se adaptaria a um estilo de uma sociedade, pois ao chegar no Brasil com um estilo europeu se adaptou sendo um dos alicerces para construção de uma identidade nacional e tornando-se um esporte de massa. Além disso, o pensamento elitista não poderia dar certo num país com grande desigualdade social, não industrializado e ainda bastante mestiço. O fato é que os negros brasileiros encontraram no futebol um espaço para a ascensão social e podia alcançar o status de herói nacional. Mesmo com esta condição, o racismo esteve e está presente dentro do esporte, aliás, libertados pela Princesa Isabel no século XIX, o negros brasileiros tiveram que precisar de um nome para escapar, de certa forma, da inferioridade imposta a eles: Pelé. O pior é saber que o racismo não está ligado a cor de uma pessoa e sim a sua condição financeira e social, um exemplo: Nos EUA, um dos países mais racistas do mundo, os maiores ídolos no esporte americano são negros; você olharia do mesmo jeito para o Pelé e para um morador de rua que seja negro? Penso que não! Então, acima de tudo, o esporte não supera o racismo e sim, quem o supera é o dinheiro.


Escrito em 11/01/2012
por Tiago Guioti

Copa de 98: Da quase consolidação à escuridão

Uma das maiores Copas do Mundo já realizada foi organizada pela França em 1998, sem aquele “ar” de guerra, regimes fascistas e nazistas que imperavam sessenta anos antes. Com a grandeza de um evento deste porte, pode-se dizer que o país anfitrião deu conta do serviço, apresentando um belo Mundial. Porém, um fato no último dia de festa do torneio fez com que ficasse na história do mundo da bola, um nebuloso acontecimento que colocou em dúvida o caráter de um jogador e de uma seleção e que também concretizou uma era no futebol, inaugurada por João Havelange – Presidente da FIFA de 1974 à 1998 – A era do futebol como um negócio. Afinal, o que aconteceu com Ronaldo no dia da final da Copa? Será mesmo que a CBF junto com a Nike – Maior patrocinadora da CBF e de Ronaldo – Venderam a final para a França?

De 10 de junho a 12 de julho, a bola rolou nos belíssimos estádios franceses com a participação de nada mais de que 32 seleções de futebol, um recorde proporcionado pela FIFA, devido ao número espantoso de 172 países dos cincos continentes inscritos para as eliminatórias e pelo mundo globalizado que surgia na época. De acordo com que ia realizando-se a Copa, observou jogos extremamente competitivos como a semifinal entre Brasil e Holanda; As quartas de final entre Itália e França e as oitavas de final entre Argentina e Inglaterra, ressaltando que esses três jogos citados, foram decididos nas cobranças de pênaltis e considerados uns dos melhores jogos de todas as Copas. Também vale a pena citar os jogos, Brasil e Dinamarca; França e Paraguai e Argentina e Holanda. Depois destes jogos épicos, a disputa da final da Copa ficou a cargo da França, seleção anfitriã e do Brasil, atual campeão e favorito. O jogo, três a zero para a França; Zinedine Zidane ídolo francês e carrasco brasileiro; Seleção brasileira irreconhecível parecia que todos estavam abatidos e apavorados com algo que tinha acontecido, deixando acontecer a maior derrota brasileira em todas as Copas.

Talvez, só uma pessoa saiba exatamente o que aconteceu naquele dia com Ronaldo, ele mesmo. Segundo a CBF e a comissão técnica de 98, Ronaldo sofreu uma convulsão horas antes do jogo que durou cerca de trinta segundos, provavelmente causado por stress emocional. Presenciado por alguns jogadores no hotel, o ocorrido fez com que abalasse psicologicamente todo o grupo, trazendo uma forte insegurança, já que estava perdendo o seu melhor jogador para uma partida que ficaria para a história. Ronaldo e os médicos da comissão técnica foram para uma clínica em Paris, para realização de exames neurológicos e cardíacos no jogador, enquanto isso no hotel, o técnico Zagallo e seu auxiliar Zico, faziam a preleção e com a informação de que Ronaldo não estaria em condições para jogar, Edmundo foi escalado. Ao chegar ao estádio, por exigência da FIFA, a escalação das duas equipes deveria ser publicada para a imprensa uma hora antes do jogo. Feito isso, o mundo se espantou em não ver o camisa nove no time titular e muito menos no banco. Meia hora depois, Ronaldo chega ao estádio portando os exames que constatava nada de errado, dizendo que não tinha nada e que não podia ficar de fora do principal jogo do Mundial. No mesmo momento, houve uma reunião entre a comissão técnica e Ricardo Teixeira – Presidente da CBF – e foi decidido que Ronaldo, que tinha um contrato de 90 milhões de dólares com a Nike, jogasse a final, sendo assim, publicada outra escalação, agora sim com seu nome. Nas horas que antecediam o jogo e durante a partida, absolutamente ninguém, fora a CBF e o grupo brasileiro, sabiam o que tinha acontecido, sendo revelado somente depois da partida.

Após o fato, vários boatos foram especulados, desde uma simples lesão a uma grande corrupção. Imediatamente, pensou-se que a CBF vendeu o jogo para o governo Francês, já que a França passava por uma crise social que envolvia vários descendentes de imigrantes e que era obrigação ganhar o torneio para amenizar a xenofobia e também pelo fato de que, a seleção brasileira tenha feito um jogo medíocre perto dos jogos brilhantes contra Chile, Dinamarca e Holanda. Outra falácia que especulavam era de que, a Nike tinha um contrato com Ronaldo contendo uma cláusula obrigando o atleta a participar de todos os jogos da Copa, forçando sua entrada depois do ocorrido no hotel e ainda lançando, naquela mesma partida, uma chuteira com seu nome, a R-9. Outro ponto em discussão, seria o interesse da Nike em patrocinar a seleção francesa – patrocinada na época pela Adidas – Assim a Adidas teria proposto para a Nike vender o jogo em troca do patrocínio, sendo que hoje, o patrocinador da França é a Nike. Talvez a teoria conspiratória mais compreensível e revoltante seja que, a CBF vendeu o jogo para a FIFA, ganhando assim a sede do evento no ano de 2014 e o título da Copa de 2002, assim a FIFA ofereceu 570 mil dólares – que na época valia quase um milhão de reais – a todos os jogadores e comissão técnica e o único jogador a ter recusado a mala preta foi Ronaldo, sendo obrigado a não entrar em campo. Outras balelas foram ditas, como problemas pessoais na família e um triângulo amoroso entre Ronaldo, Susana Werner – namorada na época – e Pedro Bial. Lesões no tornozelo e no joelho foram faladas também, assim como um possível envenenamento do jogador por um cozinheiro francês do hotel.

Ronaldo, aos quatorze anos, era um menino pobre do Rio de Janeiro que pegava vários transportes público para treinar e jogar no São Cristóvão. Aos vinte e um anos, já era nomeado por duas vezes o melhor jogador do mundo, jogava num dos melhores times e tinha um contrato em que ele faturava mil dólares à hora. Não foi à toa que dele se esperava e acreditava muito na Copa da França, ainda mais jogando bem. Mas essa esperança se transformou em pressão pela dinheirama que ganhava, pelo fervor da população e principalmente pela mídia que o cobrava para brilhar sempre e ganhar sempre. Assim, Ronaldo, como um ser humano normal, sucumbiu a essa pressão/cobrança e possivelmente teve aquela crise nervosa. Entretanto, dizer que um evento relacionado ao futebol, nos dias de hoje, foi vendido, é compreensível pelo negócio que a modalidade se transformou. De uns quarenta a trinta anos para cá, o interesse pelo esporte mudou, antes era por praticar algo e por vestir uma camisa que representava respeito e orgulho, hoje o interesse é exclusivo por dinheiro e poder para ver quem manda mais.

Nunca saberemos o que houve naquele dia, se foi vendido ou não e se realmente houve a convulsão, mas uma coisa é certa, o futebol tem um lado escuro, nebuloso, onde só as pessoas que o comandam e talvez as pessoas que o jogam tenham, a idéia do que se passa dentro dos escritórios e vestiários. Outra coisa intrigante é, como poderia o Brasil pensar em vender uma Copa do Mundo, sendo que, setores públicos, privados, creches, escolas do ensino fundamental, cursos superiores, bancos e todo o comércio interrompem seus expedientes só para acompanhar os jogos e em que a população canta seu hino durante todo um mês a cada quatro anos. Essa aclamação popular pelo evento não é diferente em relação aos jogadores. Qualquer garoto no Brasil e até mesmo garotas, sonham em entrar no estádio para jogar uma final de Copa do Mundo masculina ou feminina e esse é o ápice de quem joga futebol, ou seja, quando se está numa final, não se passa pela cabeça de ninguém em vendê-la e sim, simplesmente ganhá-la para poder ficar na história. Culpar somente Ronaldo, Zagallo, Zico ou a CBF pelo fracasso em 1998, não é certo, pois todos, inclusive a sociedade brasileira influenciada pela mídia, tem sua parcela de culpa, assim sendo, antes de acusar ou julgar qualquer pessoa envolvida, temos de pensar nas nossas atitudes para com aquele fato.
Escrito por Tiago Guioti



Real Madrid e Barcelona: Nunca é só um jogo

No primeiro semestre deste ano, Real Madrid e Barcelona protagonizaram em quatro partidas num período de vinte dias, uma das maiores rivalidades que o futebol mundial possui. Real e Barça sempre tiveram os melhores jogadores do mundo em seus elencos e representam não só duas cidades importantíssimas, mas sim duas nações de diferentes interesses políticos e culturais, a Espanha e a Catalunha.

Localizada ao nordeste do território espanhol, a Catalunha, considerada hoje comunidade autônoma (nação que possui autonomia legislativa e administrativa), foi incorporada à Espanha na Guerra de Sucessão Espanhola pelo Rei Filipe V e reconhecida como comunidade autônoma na proclamação da República Espanhola em 1931. Porém na ditadura de Francisco Franco, nas décadas de 40 a 70, a Catalunha perdeu sua autonomia e sofreu duríssimas repressões linguísticas e culturais pelo estado fascista de Franco, onde chegou até abolir o uso de sua língua oficial, o catalão. Nesse mesmo período, na ditadura de Franco, essa rivalidade entre Real Madrid que representava o poder político franquista e o Barcelona que representava de certa forma a resistência catalã, teve seu ápice devido ao confronto de ideias que envolvia as duas nações. Tanto é que nessa época, o time catalão adotou um slogan “ mais que um clube”, pois devido à repressão imposta por Franco, o único lugar em que o povo catalão podia falar seu idioma e expressar seu nacionalismo pela Catalunha, era em jogos do Barcelona, já que o ditador não tinha a audácia de entrar no estádio com suas tropas e executar todos. Assim sendo, quando havia um clássico entre Real e Barça, cada vitória representava um ar de superioridade referente ao seu rival, tanto no âmbito futebolístico tanto no âmbito político cultural, principalmente quando se tratava de uma vitória do Barcelona.

Esse pode ser considerado um exemplo clássico de como o futebol pode tornar-se uma ferramenta de livre expressão de uma nação que possa estar sofrendo uma crise política ou até mesmo uma crise social, voltando para a modalidade toda a esperança que algo possa acontecer de melhor. Era e é através do futebol que o povo catalão pode cantar seu hino, erguer sua bandeira e mostrar sua identidade devido à imagem que o clube Barcelona possui no mundo do futebol. Essa rivalidade também é um exemplo de que, no futebol não há ninguém diferente quando se entra para jogá-lo, um mundo interessante em que as diferenças externas pode contribuir para o espetáculo, mas não necessariamente pode se dizer que um time vá ganhar por causa disso, talvez por isso então, que o futebol tenha tantos adoradores no mundo inteiro, pois trata-se de um esporte em que o menos favorecido pode  sobressair-se ao mais favorecido.

Real Madrid e Barcelona, não se trata de um jogo de futebol apenas, considera-se que é um duelo também entre nações, que em caso de vitória de um dos times, não são só os torcedores dos times que comemoram e sim uma nação, que pode ser a catalã ou a espanhola, pela qual me simpatizo.



Escrito em 10/07/2011 por Tiago Guioti